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Superman: Whatever Happened To
The Man Of Tomorrow?
Kike Benlloch Castinheira Synapsis vol.II /
Julho'97 |
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(1997) Tomo prestígio de DC Comics reeditando os números:
ACTION COMICS 583 (setembro de 1986)
SUPERMAN 423 (setembro de 1986) Guiom: Alan Moore Lápis:
Curt Swan Tinta: George Pérez e Kurt Schaffenberger |
 Alan Moore
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Situemo-nos mentalmente na época. Atopamo-nos a mediados dos anos
oitenta. O mercado americano da banda desenhada, a própria conceiçom do
comic dos Estados Unidos ronda já o meio século de vida. É umha época
convulsa, de re-estudo de personagens que nom têm evolucionado desde a sua
origem. Frank Miller já nos surpreendeu co seu Daredevil: Born
Again e anda tirando uns quantos pilares co seu Dark Knight
Returns. Alan Moore construi pola sua parte, coa inestimável
colaboraçom de Dave Gibbons, esse irrepetível hito nos quadrinhos
de superherois que se chamou WatchMen.
Nesse marco observa-se umha divergência essencial entre as duas grandes
casas. Marvel é a editora moderna --nada nos sesenta--, dinámica, e
representa o futuro, entanto DC, cuja origem se remonta longo tempo
antes de que Stan Lee e Jack Kirby cambiassem o curso da
história, se vê irremediavelmente lastrada por um passado incoerente que
eclipsa mesmo a essa imponente galeria de personagens clássicas que possui
(som quase todos os que estám e viceversa: Batman, Superman,
WonderWoman, Flash...).
O problema é este: entanto Marvel foi concebida basicamente por
duas persoas (Lee e Kirby), coa clara intençom desde o
primeiro momento de desenhar um universo superheróico mui povoado pero
coerente, no que as personagens interactuam e vivem os mesmos sucessos ao
mesmo tempo, a ideia de pôr num mesmo mundo a todos os superherois da
DC foi posterior à criaçom destes. Isto nom teria sido um problema
tam grave de non ser polas imensas, irremediáveis falhas de raccord
e de consistência que se produzirom na interacçom entre as devanditas
personagens. A soluçom provisional que se escolheu em DC foi tomar
como premisa que havia umha série de mundos paralelos, mesmo existindo as
mesmas personagens concorrentemte nuns e noutros, e situando cada história
segundo convinhesse numha destas infinitas terras ou noutra. Mas
esta mentira nom ia durar por sempre e de feito estava-se vindo abaixo.
Entanto na Marvel os actores semelhavam interpretar os seus papeis
harmoniosamente, DC convertia-se numa verdadeira casa de... lios,
na que o leitor já nom sabia situar personagens nem cenários. DC
nom podia permitir-se o luxo de seguir sendo o camarote dos irmáns Marx ad
aeternum. Chegara a hora de pôr fim a tanto sensentido e de ter umha única
Terra na que vivessem e interactuassem todos os herois e heroinas. Chegara
a hora da Crisis On Infinite Earths.
Assim se chamou o projecto de refundiçom das múltiples realidades
coexistentes no universo DC numha soa, à maneira e jeito da
Marvel. Que supunha isto? Em primeiro lugar, a simples desapariçom
de muitas personagens que quedaram obsoletas. Em segundo lugar, que muitos
sucessos relatados em velhos quadrinhos passavam agora a serem
oficialmente "feitos imaginários" (manda caralho, a ver quais nom o eram
;-)
Pois bem, resulta que neste marco de acontecimentos, com esse projecto
de redefiniçom que se deu em chamar a Crise nas Infinitas Terras já
em marcha, DC apresurou-se a fazer umha fichagem de alto nível:
John Byrne, o artista hot do momento. Por aquel tempo
Byrne era provavelmente o autor de mais tirom popular, já que os
seus livros vendiam mais que os de Miller e Simonson, por
pôr por caso.
Assim as cousas, o veterano editor Julie Schwartz decidiu que
antes de que Byrne se incorporasse a dirigir o futuro do primeiro
dos superherois, el devia pôr ponto final à sua carreira... por tudo o
alto.
Schwartz era editor --isso nos EEUU quer dizer director de
colecçom no negócio da banda desenhada-- das séries ACTION COMICS e
SUPERMAN, ambas protagonizadas polo nativo de Krypton e
sendo a primeira na que debutara o Clark Kent alá no ano 38 da mam
dos seus criadores Siegel e Schuster.
A Schwartz nom se lhe saia da cabeça umha ideia bastante
tentadora. Já que ao mes seguinte de el se retirar se ia redefinir por
completo o universo DC, poderia ter a oportunidade de contar a
história que todo guionista de comics sonharia com contar: a derradeira
história de Superman.
Nom tardou muito em decidir quem seria o debuxante desta história tam
especial: Curt Swan era o home com cujos desenhos do
Superman medrara toda uma geraçom, incluíndo muitos dos que agora
eram famosos artistas, como os próprios Moore e Byrne.
Empregando um simil futbolístico, Swan era aos comics de
Superman o que Di Stefano ao Real Madrid. Uma eleçom singela.
Nom foi assim de fácil o assunto do escritor. Estava claro que tinha
que ser alguém especial, e quem mais especial que o home que escrevera o
primeiro relato de Superman? Por infortũnio do destino,
problemas de tipo legal impedirom-lhe a Jerry Siegel converter em
realidade este sonho.
Conta a lenda --e o prõprio Schwartz, por certo-- que um dia
entanto almorçavam, el compartiu com Alan Moore os quebradeiros de
cabeça que o assunto lhe estava causando. Moore ergueu-se, pusso as
mans arredor do pescoço de Schwartz e disso-lhe: "Se nom me das
essa história de Superman a mim, és home morto".
O resto, como dim alá nos USA, é história. Moore escreveu umha
narraçom épica, con um toque apocalíptico, e um final surpreendente, todas
características condensadas que tamém atopamos na que seria, à parte de
contemporánea a este "derradeiro" relato de Superman, a sua obra
cũmio, WatchMen. Moore tinha ante si umha
possibilidade única: contar se Superman morrera e como, que fora
das suas antigas noivas e dos seus amigos, que acontecera cos seus mais
terríveis inimigos. "Whatever..." é um comic mui especial por
quanto tenta dar fim em só 48 páginas a umha tradiçom e uma galeria de
personagems que viviram durante meio século.
De feito eu penso que o logra, porque esse genio que é Moore tem
a insigne capacidade de meter-se na essência de cada um dos actores e
actrizes que tem ao cargo, compreendendo e fazendo-nos compreender a nós
(o qual é o mais importante, claro ;-) quais som as razons de ser de cada
um deles. A coerência e a claridade na conceiçom e estruturaçom do relato
som as premisas sempre cumpridas polo mestre británico, e aqui refrenda-as
numha obra única e provavelmente irrepetível, que se adiantou ao que hoje
conhecemos como What If's da Marvel e ElseWorlds da
DC, pero com umha qualidade que a pom por em riba de qualquer
produto divulgado numha destas duas linhas: nom é um simples comic
off-continuity que se olvide ao dia seguinte de ser lido. Isto
acontece de cote cos quadrinhos dos What If e dos ElseWorlds
precisamente por causa da sua ausência de efeito sobre o "grande
esquema das cousas" dos respeitivos universos comiqueiros.
Mas nom, este nom é um comic que se esqueza ajinha, já que esta é
--nom se subestime-- a derradeira história de Superman.
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